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A iminente queda da Família Margarina e a ascensão do amor livre


Ali está a família margarina: mamãe, papai, filhinho, filhinha e todos muito felizes. Talvez uma vovó ou um gato também. Este é o retrato da tradicionalíssima família brasileira que, galopantemente, vem mudando seu formato.

Adicione à foto uma madrasta (ou duas), alguns meio irmãos, duas mamães, o namorado do papai e temos uma revolução.

Entre tantos questionamentos que este tema pode levantar, uma entrevista concedida pela psicanalista Regina Navarro Lins, consultora do programa Amor & Sexo, à revista TPM, chama-me a atenção: premonitoriamente a psicóloga revela que, em 30 anos, a monogamia sairá de moda.

Ok leitor. Talvez a monogamia não seja o forte de muitos homens há algum tempo. Mas e quando sua querida esposa, mulher, namorada (porque não também a amante) entrar neste balaio e propuser: não sejamos exclusivos um do outro. O que fazer?

“Quem disse que não é possível amar mais de uma pessoa? É sim!”, Regina provoca.

Em seu primeiro livro, o best seller “A cama na varanda”, a psicanalista defende o poliamor e o início de uma era onde o sexo será mais desencanado.

A autora defende ser impossível manter o tesão em uma relação controladora e autoritária: “A coisa mais comum de ver no casamento é dependência emocional de um e do outro. Quando você sabe que o outro tem pavor de te perder, que ele está ali no seu pé… o tesão fica inviável. Tem que existir um mínimo de insegurança para você ter tesão”.

Os ideais de família nuclear – mulher frágil e dependente, homem corajoso e forte – também são destruídos por constatações desta estudiosa que trabalha com o tema há mais de duas décadas. Seu material clínico comprova que as mulheres têm relações extraconjugais tanto quanto os homens e que não sentem mais tanta culpa: “Tenho a impressão de que a sexualidade, com o tempo, vai ser mais livre”, revela.

A justificativa para a demolição do castelo do amor romântico, diz Navarro, está no fato de que esta forma de relacionar-se prega a fusão completa com o parceiro, anulando suas diferenças para então tornar-se um só. Um barco que rema ao contrário da maré em que o ser humano atual está mergulhado: a busca pela individualidade, a viagem para dentro de si mesmo.

A autora revela o início de um novo amor: aquele não calcado na idealização. “Acho que você vai poder se relacionar com mais de uma pessoa. E, ao sair de cena, o amor romântico está levando com ele a sua principal característica: a exclusividade”.

Para isso ela adianta algumas tendências (e que já podemos ver seu nascimento): a bissexualidade, o sexo grupal, as relações abertas.

Para entender essa dissolução dos pactos de fidelidade entre um casal a autora comenta que fidelidade nada tem a ver com sexualidade.

A palavra traição é muito inadequada para definir uma relação sexual com outra pessoa. Traição é uma coisa muito séria. É você trair um amigo, um irmão. Prefiro chamar de exclusividade. O que as pessoas precisam é parar de fazer um pacto que não vão cumprir. Acredito que cada vez mais as pessoas vão optar por não se fechar em uma relação e preferir relações múltiplas. Porque essa coisa de você amar duas pessoas, três, isso acontece o tempo todo. Eu atendo pessoas nessa situação e elas sofrem muito por isso. Acho que existem muitas chances de esse poliamor predominar. Porque amor é uma construção social. As pessoas pensam que o amor é só o amor romântico, mas não é nada disso. Quando eu critico o amor romântico, tem gente que acha que sou contra o amor”.

A crítica está no molde como o vivemos.

Navarro acrescenta que em 80% dos casamentos há infelicidade. Isso porque há grandes expectativas no amor romântico: a de que a pessoa será isso ou aquilo, que cuidará de todas as suas necessidade, e que a completará.

Porém, este ideal não se sustenta na convivência cotidiana, porque você é obrigado a enxergar o outro com aspectos que lhe desagradam. Então surge o desencanto, o ressentimento e a mágoa.

É necessário que as pessoas se enxerguem às claras, tenham vida própria, amigos incomuns, programas em separado. A psicanalista prega que não deve existir controle da vida e sexualidade do outro: “A exigência de exclusividade é uma obsessão”.

Apesar de colocar muitos de nossos paradigmas no chão, a analista defende que não está propondo outro modelo, mas sim que não haja modelos. “Se alguém quiser ficar casado 30 anos com uma pessoa e só fazer sexo com essa pessoa, tudo bem. Se quiser ficar casado com quatro, tudo bem também. O importante é não ter modelos. Os modelos aniquilam as singularidades”.

Agora aqui vai o desafio caro leitor: as ideias são provocadoras e contundentes, e te “libertariam” para viver a diversidade de desejos e fantasias presentes em todo homem: duas mulheres, diferentes parceiras, em grupo. Você talvez esteja preparado para ver-te com outra.

Mas e a ela com outro? Os homens estarão preparados para libertarem suas amantes do patriarcado, da possessão de tê-la para si só, deixando de lado a tão segura e démodé família margarina?

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