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As redes sociais nos distanciam da autoestima e nos aproximam do narcisismo

Muitos homens e mulheres comparecem às filas dos cirurgiões plásticos, psicólogos e esteticistas em busca de melhora da autoestima. Mas, então, questiono: o que seria este mítico conceito? E como fazer para aumentá-lo? Seria este um valor moral, uma construção de identidade? Uma opinião sobre nós mesmos, ou um conceito sobre o mundo?

Talvez tudo junto e misturado.

Para que possamos desvendar o mistério, nada mais justo do que olharmos para o que a própria palavra nos diz: autoestima; estimar a si mesmo – ter apreço pelo que se é.

Penso então que haverá autoestima aquele que vive de acordo com suas ideias e ideais, sem ofender o código de valores e condutas que construiu para si mesmo ao longo da vida. Com isso, a autoestima torna-se subjetiva e dizendo respeito apenas àquele que a tem.

Uma pessoa para quem a honestidade é imprescindível poderá enriquecer caso aceite suborno, mas terá sua autoestima baixa inevitavelmente, pois creio não ser possível um bom juízo de si caso esteja agindo em desacordo com seus princípios.

E aqui não me refiro a princípios morais, como pregam os dez mandamentos. A autoestima é infinita em sua subjetividade humana, e por isso varia de acordo com os valores de cada pessoa.

Logo nos primeiros anos de vida, incorporamos as normas, leis e regras que nos são dadas com o objetivo de agradar aos adultos que nos são importantes. Aprendemos seus valores e os adotamos, porque este é o caminho para sermos amados por eles. E o contrário é valido: os adultos usam a necessidade das crianças de serem protegidas e cuidadas como instrumento para educá-las, ou seja, transmitir à nova geração as normas daquela comunidade.

Mas este é apenas o princípio do processo de construção de nossa identidade. A partir da adolescência, passamos a contestar os valores que nos foram impostos, negando, apenas por negar, tudo o que nos ensinaram (e muitos são os “aborrecentes” que agem assim), ou então reavaliando-os de forma sofisticada, comparando-os a outros pontos de vista ou submetendo-os a uma experimentação na vida prática.

Se fomos educados, por exemplo, a não transgredir, tornando-nos pessoas rígidas, sérias e prepotentes, isso pode ser prejudicial ao convívio social e afastar aqueles de quem gostamos. A prática da vida, nesse caso, poderá nos ensinar a ter maior “jogo de cintura”, ou seja, a afrouxar um pouco nossos critérios quanto à liberdade e aos direitos de cada pessoa.

Sempre que pudermos repensar nossos valores devemos conseguir mudar também nossa conduta. A medida que vivemos e envelhecemos, alguns conceitos são repensados. O objetivo é fazer com que possamos viver de acordo com nossas ideias e ideais, condição indispensável para a construção de uma autoestima positiva.

Nota-se então outra condição para a construção de uma boa autoestima: levar uma vida produtiva, em constante evolução. As experiências são vitais para nos conhecer, descobrir as falhas e potenciais e então nos tornarmos seguros de quem somos. Os elogios reforçarão suas convicções de que está indo pelo caminho certo, enquanto as críticas indicarão a necessidade de correção de rota.

Com o passar do tempo, do crescer da experiência, a partir do auto conhecimento, a pessoa com uma boa autoestima saberá avaliar a qualidade de suas ações, tornando-se menos dependente do julgamento dos outros.Sua autoavaliação se tornará o que de fato importa, e sua autoestima se consolidará independente do ambiente.

As redes sociais e a autoestima

O que temos visto hoje em dia vai no caminho diverso. Os conceitos estão sendo confundidos e muitos interpretam como autoestima comportamentos típicos do Transtorno da Personalidade Narcisista (ou simplesmente Narcisismo). Numa época em que a foto é o fator mais importante de um encontro (se não há foto então não valeu), as pessoas estão mais preocupadas em mostrar que estão curtindo do que curtir de verdade.

E a forma como as selfies se espalharam no mundo digital explicita o quanto estamos totalmente apegadas a nossa própria imagem. Essa atenção consigo mesmo não acontece de maneira reflexiva, para enxergar aspectos negativos e poder melhorar-se, mas de maneira ilusória, para encobri-los e mostrar-se (apenas mostrar-se) já melhorado.

As redes sociais não são o maior sucesso da internet na era atual apenas porque coloca as pessoas em comunicação intensa, mas porque permitem que elas se apresentem como desejam e tenham um (falso) feedback positivo disso, afinal, só há opção de gostar, compartilhar, recomendar, retuitar – e nada de desgostar, não recomendar, criticar…

A vida nas redes sociais não oferece a oportunidade de recebermos dos outros elogios e críticas de quem realmente somos, já que lá não somos quem realmente somos. Facebook e companhia, através dos mecanismos de curtidas, comentários e cutucadas, reforça em nosso interior uma ilusão de quem gostaríamos de ser.

Essas páginas nos incentivam a apaixonarmo-nos por nós mesmos – como aconteceu com Narciso. É um sintoma patológico da humanidade que os recursos da tecnologia estão favorecendo a manifestação.

Mas auto estimar-se está longe de ser como Narciso, que olha a seu reflexo e assegura-se de ser o espécime mais lindo deste mundo. Auto estimar-se relaciona-se ao crescer, experienciar, cair e levantar, aprender e conhecer. É saber quem se é na real – e não na ilusão.

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